quarta-feira, 20 de fevereiro de 2013

O Girassol que não girava para o meu Sol



Há anos atrás, encontrei uma semente, aquela que eu deixei de lado durante muito tempo. Entre semanas e semanas a via às vezes, me fazia sorrir, mas só momentaneamente. Nada que despertasse meu interesse por mais de dez minutos. E a deixava de lado novamente. Durante esse pequeno período dedicado à ela, pensava se um dia daria frutos gostosos sobre os quais eu poderia me deliciar. E a esquecia, não tinha importância. O destino achou curiosa nossa relação e resolveu fazer com que eu a notasse um pouco mais. Então, resolvi cuidar daquela que parecia tão frágil e comum, não esboçava nenhum risco de perigo ou sinal de que seria especial, pelo contrário, me fez acreditar que eu seria o único e completo beneficiado. O tempo foi passando, e a semente começou a evoluir, mas evoluir de tal forma que eu não controlava mais meu anseio por ela. Admirava-me como gostei dela, como seu brilho natural me fazia bem. À luz do Sol era radiante e iluminava todo o meu dia. À luz da Lua era serena e acalentava minha noite. E eu só queria cuidar mais e mais dela, que parecia tanto com a minha alma. Não via a hora de levá-la para dentro do meu coração e ali tê-la para sempre comigo. Foi-se mais alguns meses, reguei, cuidei, fiz sombra quando o Sol ameaçou queimá-la, esquentei-a quando a mais fria das noites quis esfriar seu sentimento. Foram dias difíceis que passei ao lado dela. Dias de muita seca em que nossos sentidos quase não sobreviveram. Muitas vezes o machucado também fui eu. Sofri quando perdeu algumas de suas lindas pétalas por minha causa, quando me desleixei e a deixei à deriva numa inundação de vida real e selvagem. Quando o resto do mundo a fez mudar, ela se ergueu e me fez lembrar porque a amava e alegrou meu coração novamente. Mas o destino é frio e calculista, e no meio de todo aquele amor, mostrou-me o seu propósito: Nunca poderá ser somente minha, nunca irá fazer parte apenas do meu mundo, ela pertence ao jardim da vida e meu coração não comportaria tal plenitude dentro de si. Dei meu melhor, mas não só para mim, como eu planejava o tempo todo. E sim, para o mundo, que precisava de uma luz como aquela, de uma alma como aquela. Jamais pertenceu somente a uma pessoa, e sim, se divide dentro de todos os corações que cuidam, admiram e amam ela. A flor mais bonita, que sempre reguei ..


Então me diz o que é que eu faço
pra não viver nessa indecisão.
De tê-la no meu jardim e não
de ter no meu coração .. ♫

quinta-feira, 7 de fevereiro de 2013

Devaneios



E eu já não suporto mais essa coisa de toda noite antes de dormir ser você quem domina os meus pensamentos. Mas eu não vejo você como você me vê. Eu quero mais, mais do que tenho e mais do que você quer me proporcionar. Eu quero que meus devaneios se tornem realidade, que por muitos  dias você segure a minha mão com toda leveza e carinho de quem tem um sentimento bonito e que por várias noites eu durma feliz por estar envolta em seus braços, que fazem com que todos os problemas desapareçam e com que eu não queira mais nada além de estar ali, na sua cama e no seu coração. Eu quero que você sinta prazer em estar ao meu lado e em mostrar a todos que está comigo, e que nós dois deixemos de ser dois pra ser um só. Quero que você preencha o vazio que nunca dei espaço pra nenhum outro preencher, mas quero que seja só meu e que se sinta seguro com isso. Sonho com o dia em que você vai trocar qualquer farra para estar ao meu lado, e espero que o dia que os seus sonhos coincidirem com os meus não demore a chegar, pois eu estarei aqui, mas o meu coração pode não estar.
 


Tudo que cala, fala mais alto ao coração
Silenciosamente, eu te falo com paixão
Eu te amo calado, como quem ouve uma sinfonia
De silêncios e de luz ♫



por Tiessa Soares

segunda-feira, 4 de fevereiro de 2013

As coisas que vão me lembrar você

"O despertador velando os nossos ouvidos de dez em dez minutos. Os dedos munidos de incansáveis e regurgitáveis e repetidas mensagens de bom dia. O seu café temperado com canela anunciando oito horas de sono, quase nove. Meu corpo abandonado nessas madrugadas enfrentando a insônia, num cortejo inútil para amansar a solidão dos pés.
O que não tivemos, porque fomos interrompidos. As festas que frequentaríamos, eu estrangulando a sua mão, pra que seu amor não me escapasse. As viagens que não planejamos. Aviões no céu, todos eles, que flutuam na linha da vida que você me roteirizou e cremou, como se cansado da brincadeira.
Eu vou me lembrar de você sempre que for surpreendida por uma parede colorida por porta-retratos e me dilacerar com uma dúvida: quanto tempo depois você se livrou da insignificância da minha foto coroada ali. Toda vez que topar com qualquer peça de roupa enterrada nas gavetas e que foi parar ali um dia só pra chamar a sua atenção. Do quanto você me achava insuportavelmente bonita. E do quanto eu me fazia bonita, só pra agradar.
Uma multidão ao nosso redor, você com um presente nas mãos. O nome do taxista que guiava por São Paulo quando você descansou no ombro esquerdo a cabeça e seu olhar incendiado de uma ternura piegas me enquadrou eternamente. O perfume que você me deu – ainda é dolorido me vestir com nosso cheiro – e que escondi de minhas recaídas noturnas e dramáticas, que todos já preferem ignorar.
Palavras atrevidas enjoando o peito. A eternidade de um beijo. Um tropeço do coração. O corpo anestesiado de uma alegria, que hoje repousa cinza dentro de alguma urna do meu passado.
Silêncios repentinos vão me lembrar você. Uma porta batendo na minha cara. Um telefone desligando sem adeus. Aliás, qualquer adeus. Todo “até logo” banal que ainda vou sofrer. Perguntas não preenchidas. Mentiras. O que você completou, enquanto eu só conseguia sorrir."


por Priscila Nicolielo