Há anos atrás, encontrei uma semente, aquela que eu deixei de lado durante muito tempo. Entre semanas e semanas a via às vezes, me fazia sorrir, mas só momentaneamente. Nada que despertasse meu interesse por mais de dez minutos. E a deixava de lado novamente. Durante esse pequeno período dedicado à ela, pensava se um dia daria frutos gostosos sobre os quais eu poderia me deliciar. E a esquecia, não tinha importância. O destino achou curiosa nossa relação e resolveu fazer com que eu a notasse um pouco mais. Então, resolvi cuidar daquela que parecia tão frágil e comum, não esboçava nenhum risco de perigo ou sinal de que seria especial, pelo contrário, me fez acreditar que eu seria o único e completo beneficiado. O tempo foi passando, e a semente começou a evoluir, mas evoluir de tal forma que eu não controlava mais meu anseio por ela. Admirava-me como gostei dela, como seu brilho natural me fazia bem. À luz do Sol era radiante e iluminava todo o meu dia. À luz da Lua era serena e acalentava minha noite. E eu só queria cuidar mais e mais dela, que parecia tanto com a minha alma. Não via a hora de levá-la para dentro do meu coração e ali tê-la para sempre comigo. Foi-se mais alguns meses, reguei, cuidei, fiz sombra quando o Sol ameaçou queimá-la, esquentei-a quando a mais fria das noites quis esfriar seu sentimento. Foram dias difíceis que passei ao lado dela. Dias de muita seca em que nossos sentidos quase não sobreviveram. Muitas vezes o machucado também fui eu. Sofri quando perdeu algumas de suas lindas pétalas por minha causa, quando me desleixei e a deixei à deriva numa inundação de vida real e selvagem. Quando o resto do mundo a fez mudar, ela se ergueu e me fez lembrar porque a amava e alegrou meu coração novamente. Mas o destino é frio e calculista, e no meio de todo aquele amor, mostrou-me o seu propósito: Nunca poderá ser somente minha, nunca irá fazer parte apenas do meu mundo, ela pertence ao jardim da vida e meu coração não comportaria tal plenitude dentro de si. Dei meu melhor, mas não só para mim, como eu planejava o tempo todo. E sim, para o mundo, que precisava de uma luz como aquela, de uma alma como aquela. Jamais pertenceu somente a uma pessoa, e sim, se divide dentro de todos os corações que cuidam, admiram e amam ela. A flor mais bonita, que sempre reguei ..
Então me diz o que é que eu faço
pra não viver nessa indecisão.
De tê-la no meu jardim e não
de ter no meu coração .. ♫